E agora? Pra onde correr?
Por Renata Maranhão para Avianca Em Revista #27
De tempos em tempos somos surpreendidos por um estudo novo que grita em todos os jornais para mudarmos radicalmente nosso comportamento ou morreremos em breve. Uma hora não pode comer ovo por causa do colesterol, outra hora o ovo está liberado. Uma hora o esporte mata, na outra, o sedentarismo. No fim, no que devemos acreditar?
O último desses estudos, publicado pela revista médica Lancet e divulgado a poucos dias do início da Olimpíadas de Londres, diz que o sedentarismo mata tanto quanto o tabagismo e que o assunto é tão grave, que deve ser tratado como uma pandemia mundial. Uma em cada dez mortes no mundo é causada pelo sedentarismo, o que torna qualquer um vítima em potencial. Pode notar, tem gente que pega o elevador para ir ao segundo andar. Motoristas querem estacionar em frente ao local de trabalho ou onde farão compras. Chegam a parar em vagas de idosos ou de deficientes físicos. Não andam um quarteirão sequer. Passam o dia sentados no computador e pulam refeições por falta de tempo. Você não se encaixaria no grupo de risco? Consegue contar quantos conhecidos seus se encaixariam no perfil? Não, né?
Entre os problemas desenvolvidos pelos sedentários estão os cardíacos, câncer de mama, de cólon e diabetes. Os pesquisadores também comprovaram que o sedentarismo aumenta com a idade, é maior entre as mulheres e predomina em países ricos. Que “sorte” a minha…
Para esta equipe de 33 pesquisadores vindos de centros de vários países, incluindo o Brasil, a expectativa de vida da população mundial aumentaria em 0,7 anos caso o sedentarismo fosse completamente banido. Só que é pura utopia acreditar que seria banido mundialmente. Em uma realidade provável, reduzir o sedentarismo em 10% pode eliminar mais de 500.000 mortes por ano. E num outro estudo feito pela Pennington Biomedical Research Center, limitar o tempo que passamos sentados a apenas três horas por dia poderia adicionar 2 anos à nossa expectativa de vida. Seguindo esse princípio, restringir o tempo que passamos em frente à TV a 2 horas por dia, poderia acrescentar 1,3 anos à nossa expectativa de vida. Eu diria que já é um bom começo, não?
Pois é, a confusão se estabelece quando tomamos conhecimento de outros estudos e estes, contradizem-se entre si. Nessas horas chego a pensar que a ignorância é, mesmo, mãe da felicidade.
A frase “Esporte é saúde” foi diretamente confrontada pelo médico José Róiz no livro ”Esporte mata”. O doutor diz coisas corajosas nessa época de culto ao corpo. Não foi escrito com intenção sensacionalista ou de causar polêmica, apesar de ter gerado tudo isso, sendo retirado de circulação sem maiores explicações. Trata-se de um filósofo da medicina que descobre novos conhecimentos a partir da observação de si e dos outros. E o que ele prega são coisas simples: andar é melhor que correr e dançar é melhor que andar, mas o esporte faz mal à saúde, envelhece e mata. Róiz afirma que o doutor Cooper, com a sua coopermania, matou mais gente que Hitler. Segundo o livro, os esportes exagerados causam infartos, sendo a pior das práticas esportivas a natação. Se formos buscar um histórico, veja Ricardo Prado, por exemplo, medalhista olímpico de natação, com pouca idade já fez 3 pontes de safena, 2 mamárias e passou por um infarto. Coincidência? Sem falar nos acidentes. Quantos outros atletas não sofreram alguma coisa durante o exercício, jogadores tendo infarto em campo, paraquedista é atropelado por avião, jogador de basquete atingido pela tabela na enterrada. No esporte, existem sempre variáveis que não são passíveis de controle do esportista. O mar não pode ser controlado pelo surfista, o comportamento violento de um jogador em campo também não é controlável. O que se deve fazer é analisar os perigos daquela prática esportiva e fazer o melhor para neutralizar os fatores de risco.
Para o Dr. José Róiz, a humanidade se divide em dois grupos: os longevos e os não-longevos (grande maioria). Nos longevos, que vivem mais, a insulina (que limpa o sangue) predomina sobre o glicocorticóide (cuja atividade é impedir a ação da insulina), um dos hormônios do estresse. Nos não-longevos, acontece o contrário. E num momento de grande esforço físico ou muscular, o glicocorticóide sobe, diminui a insulina e o excesso de “sujeiras” como ácido úrico, glicose e colesterol aumentam no sangue, causam o espessamento das artérias, diminuindo a nutrição do coração, que se obstrui e constitui o infarto. Para ele, o esporte só não mata longevo, mas a maioria das pessoas está sujeita a ser faturada por ele, principalmente nessa época agitada em que vivemos. Atualmente há mais estresse do que há 50 anos, isto é, a produção de glicocorticóide está aumentada na maioria das pessoas, independente da prática de qualquer esporte.
Tudo bem, existe uma boa diferença entre atividade física e esporte. E o ideal, sempre, é o meio termo. Nem tanto ao céu, nem tanto à Terra. A atividade física moderada sempre será benéfica. Isso inclui caminhada, andar de bicicleta e tudo aquilo para o qual nosso corpo está adaptado.
Eu adoraria dizer que ler é esporte, já que pratico regularmente. Ou sugerir o pebolim, imagino que seja um esporte. E sem ser politicamente correta, para hidratar, um chopinho, pois me disseram que ficar com sede é ruim. É uma pena, pois a origem da palavra “esporte” vem do francês, do verbo desporter, que quer dizer: divertir-se, distrair-se, literalmente levar embora, retirar – no sentido de desviar a mente dos assuntos sérios. Tinha uma essência bem diferente, da mais pura e simples diversão. Parecia um mundo melhor, não?