Façamos o Sol, ora bolas!
Por Renata Maranhão para Avianca Em Revista #42
A ONU reconhece 1° de Janeiro como o Dia da Confraternização Universal, ou seja, para promover o diálogo e a paz entre os povos. Para todos os povos, é tempo de recomeçar. A verdade é que a palavra “recomeçar” é uma velha conhecida desde que Pandora abriu a famosa caixa, deixando escapar todos os males que afligem a humanidade, abalando a frágil esperança. No Réveillon acordamos cheios de resoluções e decisões, mas cá entre nós, quem as cumpre no decorrer dos dias? A palavra vem do francês réveiller, que significa acordar, deixar de dormir. Ainda no século 17, surgiu para identificar eventos muito populares entre os nobres franceses: jantares longos e chiques, que duravam até depois da meia-noite, nas vésperas de datas importantes. Essa patuscada gastronômica era realizadas diversas vezes ao ano e com o tempo se consolidou apenas na virada. Sendo os franceses a superpotência da época, o Réveillon virou moda nas colônias e em suas áreas de influência. Por aqui, os primeiros Réveillons foram realizados no Rio de Janeiro, na corte de Dom Pedro 2º e logo copiados pelas elites paulistas. Rio, eterna referência brasileira nos costumes...
A verdade é que onde quer que nos deparemos com um grupo humano em sociedade, encontraremos rituais que são adaptados ao longo do tempo, de acordo com os povos que os adotam. Sendo o brasileiro um povo tão miscigenado, misturamos a elegância francesa com rituais africanos e outras simbologias. Mas mesmo que mudem de forma, as motivações continuarão sempre semelhantes. Queremos nos entender, entender a passagem do tempo, ter o que comer todo dia. Ser feliz.
A virada do ano é o momento certo para se divertir com superstições inocentes, como vestir roupa nova, pular sete ondas e comer lentilhas.
E como um pouquinho de fé nunca é demais, não custa nada pular as 7 ondas, comer romã, uvas e lentilhas, saltar da cadeira com o pé esquerdo, usar roupa nova na virada do ano. Que atire a primeira pedra aquele que não possui superstição alguma ou que nunca, nunquinha, fez uma simpatia sequer para garantir um bom Ano Novo.
Mesmo pra quem não acredita em superstições, também não custa nada saber o que se fala sobre “o que vai reger quem” no ano de 2014:
- O anjo “Haniel” iluminará a todos com sua energia de amor e reconciliação.
- Na numerologia do ano, o número 7 trará reflexão, recolhimento e mudança e inquietação.
- Na astrologia chinesa, o ano do Cavalo promete entusiasmo e energia, poder e velocidade, desejo e selvageria, progresso e exaustão. Os cuidados aqui são com atitudes de abuso e descompromisso, intolerância, arrogância e insensatez. Mas quando, em sã consciência, não devemos tomar cuidado com abusos, descompromissos, intolerância e arrogância, senão - sempre?
No país onde a união de diversas crenças e costumes está arraigada desde que nascemos, não importa se Saturno sacudiu a sua vida no ano passado, colocando à prova as estruturas sociais, políticas, financeiras e emocionais. O ano que entra será regido por Júpiter, que, dizem, trará uma energia mais suave para refazermos as forças. Se foi Saturno que sacudiu seu eixo ou você mesmo com seu temperamento, não importa. Se Júpiter vai te reconstruir, duvido. Está em cada um a decisão de fazer diferente a cada dia. Não será Júpiter que vai te fazer acordar cedo, trabalhar mais, que te trará crescimento ou entusiasmo. Muito menos Júpiter que te selará grandes negócios, que trará prosperidade, valores morais e éticos. Só sairá da crise quem fizer por onde. Essas oportunidades só estarão disponíveis para quem estiver disposto a se abastecer interiormente de novas ideias e valores, procurando em livro, curso ou trabalho que ajudem nesta tarefa.
Janeiro, ah, janeiro... Que sirva para que sigamos com a nossa vida. Um réveiller (ps: editor, é “réveiller” mesmo, e não réveillon, ok?) assustado com fogos, alegrado por bons espumantes e boa companhia. Que 2013 sirva como lição para quem arrasta os pés, ao invés de pisar com a sola inteira. Estamos em 2014. A hora de acordar é agora. E nos acordamos - e nous nous réveillons.
Independentemente da crença, o começo de um novo ciclo é um convite para repensar e qualificar a própria relação com o próximo e com o mundo.
Sábias palavras foram proferidas por Picasso quando disse: “Há pessoas que fazem do sol, uma mancha amarela. Outras, fazem de uma mancha amarela, o sol”. Façamos o sol, ora bolas!