Revista Avianca #59 Viver ou Existir – A história de dois casais que resolveram largar tudo em busca de si mesmos

Viver ou Existir – A história de dois casais que resolveram largar tudo em busca de si mesmos


Por Renata Maranhão para Avianca Em Revista #59


Quantas histórias você já ouviu de pessoas que largaram suas profissões e recomeçaram do zero? Ou das que largaram casa e trabalho e foram viajar o mundo? E quantas vezes, lá no fundinho, você também desejou fazer algo similar, mas não teve coragem? Para desafiar o que a sociedade imagina ser o correto, dois casais deixaram suas casas, trabalhos, família e amigos para dar a volta ao mundo em busca de si mesmos – e algo que possam oferecer em troca ao mundo. 


Mirella Rabelo e Rômulo Wolff estão apenas no início desta busca. Travel and Share é o nome do projeto que os fizeram largar carreiras em multinacionais para iniciar em janeiro deste ano uma volta ao mundo que durará 2 anos e passará por 50 países. “O maior desafio já foi superado, largar tudo!”, conta Mirella. Com verba limitada, se hospedam pelo couchsurfing - rede social entre pessoas que gostariam de receber visitantes em suas casas e turistas que buscam hospedagem grátis. Até o momento já foram 84 dias de hospedagem gratuita. Mirella e Rômulo pretendem ficar 5 meses na América do Sul, 3 na América do Norte, 2 na Oceania, 8 na Ásia, 3 na Europa e, por fim, mais 3 meses na África. Na “Bucket List” do casal (lista do que gostariam de fazer antes de morrer), estavam itens como conhecer um aborígene, ver um iceberg e um vulcão. Uma lista que, com certeza, irá mudar muito a medida que a viagem avançar, pois esta é a delícia de viajar: estar aberto para o novo.  “Queremos enxergar a felicidade nas coisas simples, aprender mais sobre nós mesmos, a cultura das pessoas que nos hospedam, a levar uma vida mais tranquila e desapegada”, diz Mirella. Desde o dia da partida, 5 países já foram visitados na América do Sul, muitas aventuras vividas e alguns itens já riscados da bucket list. A rotina, se é que podemos chamar de rotina, é contada por Mirella: caminhadas de 18 km para chegar ao mirador de Las Torres em Torres del Paine, outras para conhecer um glaciar em El Chatén, mais de 16 horas de estrada para chegar ao Salar Uyuni e ver o mar de sal e se hospedar em um hotel de sal.  “Foram as paisagens mais impressionantes que já vimos até hoje”, diz um encantado Rômulo. Mirella se surpreende com a própria capacidade de adaptação: “Não tínhamos onde ficar quando chegamos em Puerto Pouvernir, no Chile, e decidimos dormir no carro em um posto de gasolina. Fazia muito frio e o vento forte não nos permitia nem acampar. Era aniversário do Rômulo e festejamos ali com o que tínhamos: uma garrafa de vinho e um pacote de batatas fritas. São momentos simples que nos marcaram de forma especial e hoje percebemos que cada dia precisamos de menos coisas. Em cada lugar que passamos, fazemos uma doação e vivemos melhor carregando menos coisas”, revela a moça. 


O que te motiva?


A necessidade de se reciclar uniu o casal Luah Galvão e Danilo España na expedição Walt and Talk - uma volta ao mundo em busca do que “move, inspira e motiva”. Quando se conheceram, já haviam perdido o brilho de executar suas profissões e agiam mecanicamente. A ideia de dar a volta ao mundo surgiu das aulas de filosofia mítica, onde conheceram a Paidéia - sistema de educação helênico, onde se acreditava que aqueles que encontrassem seus talentos e os desenvolvessem às máximas, seriam mais motivados. Decidiram então comprovar a tese. 

Foram mais de 2 anos visitando 160 destinos em 28 países dos 5 continentes. A primeira volta ao mundo tinha o tema “Motivação” e foi tão profunda que mudou suas vidas para sempre. Logo veio a segunda expedição: “Superação”, quando percorreram à pé mais de 800 km do Caminho de Santiago de Compostela. E já se preparam para a terceira, desta vez, pela América do Sul, com o tema  “Resiliência”. Suas viagens são sempre compartilhadas no site e mídias sociais do projeto, além de portais, revistas e muitas palestras motivacionais.


O melhor lugar do mundo


Depois de milhões de quilômetros percorridos, ficou impossível ao casal eleger o melhor lugar do mundo. Luah ensina que os melhores lugares são aqueles em que se está de peito aberto para vivê-los: “O lugar só se revela, de fato, quando estamos dispostos à experimentá-lo com os nossos 5 sentidos. O melhor lugar do mundo pode passar despercebido e o pior pode virar um verdadeiro romance, tudo depende um pouco da sorte, da entrega e do respeito que cada viajante tem pela própria jornada”, completa Luah. 

Danilo revela ter um afeto especial pelo Camboja, pátria do reino Khmer e suas construções, palco de uma das maiores civilizações da Idade Média, ocupando regiões que fazem parte da Tailândia, Laos e  sul do Vietnam - algo entre o tamanho atual de Nova York e São Paulo -, com 94 templos, baixos-relevos (que representam acontecimentos históricos e do dia-a-dia da época), estátuas e galerias. Um dos templos, dedicado a Buda, tem cerca de 200 enormes faces humanas de pedra decorando as torres.  “Encarar Angkor Wat de frente pela primeira vez é mesmo de entorpecer. Divino. Mágico, soberbo”, se derrete Danilo.  

 Já Luah se apaixonou por Laos: “A Cerimônia da Almas nos mostrou o poder da colaboração. Todas as manhãs, nativos e turistas participam de um ritual praticado pelos monges para coletar esmolas e alimentos, pois vivem apenas de doações. Grande parte é separada para alimentar também as inúmeras crianças carentes da região.  Participar do rito fez triplicar a minha energia vital. Luang Prabang vive todos os dias o amor em amplo sentido. Mudou minha cabeça e meu jeito de encarar a vida, sinto muita gratidão por isso”. 


O casal conta que em todas essas viagens, ninguém disse que o dinheiro ou bens materiais eram a maior fonte de motivação, mas ficou claro que ninguém motiva ninguém. “Fatores externos influenciam, como cultura, religião, tradições e família. Mas quando descobrimos o que viemos fazer nessa existência e agimos de acordo com esse propósito, passamos a compreender o que nos faz acordar todos os dias e seguir adiante”, diz Danilo. Para esta dupla, a viagem interna foi muito maior que a volta ao mundo. “Todo mundo tem uma história e todas as histórias são carregadas de ensinamento e inspiração. Hoje, compartilhar tudo o que vimos, ouvimos e vivemos é o que nos move adiante”, revela Luah. 


Mirella e Rômulo, do Travel and Share, viajam recheados com a expectativa de que sua jornada faça a diferença na vida das pessoas: ”Esperamos que nossa experiência inspire outras pessoas a irem em busca de seus sonhos e a fazer coisas que os façam felizes”, declara o casal, que reparte suas aventuras nas redes sociais da expedição e canal do YouTube. 


Viver ou Existir

Assim como tudo na vida, viver ou existir são escolhas. Alguns vivem e tornam-se protagonistas de suas histórias, outros apenas existem. “Viver motivado é viver o momento, transcender as manias, a vergonha, livrar-se do apego e buscar a magia de viver em meio à turbulência com alegria”, diz um texto de Bernardino Nilton Nascimento, um filósofo da internet. Todos nós precisamos de um pouco de magia para quebrar a rotina e plantar sonhos no horizonte. O fato é que ninguém pode fazer isso por você. É uma decisão pessoal, que parece ser a grande questão do século na humanidade. William Wallace declarava que todo homem morre, nem todos realmente vivem. Já Win Borden ensinava que se você esperar para fazer tudo até ter certeza de que está certo, você provavelmente nunca irá fazer muita coisa. Muitos são os estudiosos do tema. Ninguém sai ileso ao aprendizado.


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