Revista Avianca #65 Dentro da mente de um cachorro

Dentro da mente de um cachorro


Por Renata Maranhão para Avianca Em Revista #65


Com o passar dos anos, cachorros de rua desafiam Darwin quando aplicam a inteligência e “andam para trás” na evolução, retornando a um estado selvagem, menos domesticado, para garantir a sobrevivência na Rússia. Um estudo feito pelo biólogo Andrei Poyarkov com cachorros de rua durante 3 décadas revela que não o mais forte ou mais dominante que sobrevive, mas o mais inteligente – característica reconhecida, inclusive, por outros cachorros do bando.

Moscou tem população estimada de 35 mil cachorros de rua e a vida urbana os impulsionaram à evolução com aumento de inteligência e até capacidade de navegar no metrô. Poyarkov  revela que a forte pressão evolutiva dos invernos rígidos da capital russa os levaram a grupos diferentes de comportamento: 


Cães selvagens - noturnos e que evitam contato com humanos.

Cães de guarda - seguem o pessoal da segurança como líderes de sua matilha.

Catadores - literalmente “vira-latas” e caçadores.

Mendigos - segundo o estudioso, os mais impressionantes e inteligentes. 


Este último grupo raramente é atingido por carros, pois aprenderam a atravessar ruas quando as pessoas o fazem e esperam pela luz verde, mesmo quando não há pedestres atravessando, o que significa que aprenderam a reconhecer o sinal luminoso do homenzinho em que é permitido atravessar (já que, dizem, não diferenciam cores). No estudo, Poyarkov concluiu que a matilha dos “mendigos” traça perfis psicológicos dos “tipos” humanos para determinar qual técnica funciona melhor em quem. Exploram os membros menores e mais “bonitinhos”, já que estes têm mais sucesso pedindo comida às pessoas. Ou vão disfarçadamente por trás de alguém comendo algo e latem, o que pode assustar a pessoa e, de repente, a levar a derrubar algo. Os “mendigos” são conhecidos na capital russa como os “cães de metrô”. Recebem restos de comida dos viajantes diários que usam o sistema de transporte público e até aprenderam a navegar nos trens. Em média, 500 deles vivem nas estações, especialmente nos meses mais frios. E cerca de 20 criaram habilidades como saber o tempo em que precisam ficar no vagão entre uma estação e outra, reconhecer os nomes das estações anunciados nos autofalantes, o cheiro de determinadas estações ou todas essas combinações unidas. 

Outros estudos já registraram a rapidez com que os cães adaptam-se a sinais sociais humanos e integram novos comportamentos em seu repertório, o que não só mostra atenção à ação humana, mas também a compreensão do contexto. Isso requer inteligência. Por isso os cachorros têm uma surpreendente gama de papéis importantes na sociedade humana. Cães do salvamento, cães de pesca, cães-guia para deficientes, cães farejadores de drogas, cães de polícia, entre outros. Não é à toa que é mundialmente conhecido como o melhor amigo do homem.


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